Para esta exposição, proponho apresentar um conjunto diverso de obras, aparentemente díspares, mas que estão interligadas por um eixo comum, todas são frutos da minha pesquisa em torno do universo naval, como a série de objetos compostos por madeiras de embarcações com forte apelo cromático, fruto das várias camadas de pinturas acumuladas ao longo do tempo; A série “CORPOS”, que são desdobramentos do projeto “BANZEIRO”, realizado em 2010 em parceria com carpinteiros navais de Marabá; A instalação “FRATURAS”, composta por uma coleção de cerca de 200 hélices quebradas durante o uso, que vêm sendo coletadas ao longo dos últimos 15 anos; O conjunto de fotos “CALAFETAÇÃO”, registros realizados em 2013, mas nunca apresentado antes; Além da nova série de pinturas intitulada “TRAVESSIAS”, a qual se iniciou em 2021 tendo como suporte inicial o papel, indo posteriormente para a tela, e mais recentemente passaram a ser compostas também por densas manchas negras através do uso de resina acrílica com carvão vegetal, que no fundo representa enquanto matéria ressignificada, a floresta calcinada. Nas pinturas, meu olhar se volta para esse contexto com o interesse em extrair desse ambiente, a atmosfera de solidão, imensidão e silêncio, buscando o potencial poético dessas paisagens.

O título “ATRAVESSSAMENTOS”, surge dessa pluralidade de formas de expressão, de produções de tempos diferentes, onde através do desenho, da fotografia, da escultura, de vários vestígios, há esse entrelaçamento, esse ponto de contato, o interesse nas dinâmicas ribeirinhas que perpassa todo o conjunto de trabalhos, gerando um fio condutor que interliga o todo. Para a curadoria, convidei Marisa Mokarzel, pesquisadora com quem já tive a oportunidade de trabalhar em projetos anteriores, portanto, vejo essa exposição como grande oportunidade de reaproximação, para que possamos reestabelecer novamente uma interlocução crítica sobre os desdobramentos do que venho construindo.

Marcone Moreira