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Galeria Theodoro Braga inaugura “Veios Femininos, Devotos no Veio”, exposição que celebra memória, ancestralidade e espiritualidade amazônica

Mostra reúne obras de artistas paraenses premiados no edital “Prêmio Branco de Melo 2025”
Por Helena Saria (ASCOM)
05/12/2025 20h04

A Galeria Theodoro Braga, localizada na Fundação Cultural do Pará (FCP), abre no dia 12 de dezembro de 2025, às 19h, a exposição “Veios femininos, Devotos no veio”, uma instalação coletiva que une a potência criativa dos artistas paraenses Itatiane Moraes e Maurileno Sanches, vencedores do Prêmio Branco de Melo 2025. A iniciativa conta com apoio da FCP e ficará aberta para visitação até o dia 2 de fevereiro de 2026, com entrada franca

Obra da Itatiane Moraes

A mostra reúne esculturas produzidas exclusivamente a partir de madeiras reaproveitadas da região Amazônica, transformadas em narrativas visuais que dialogam com temas como memória, ancestralidade, religiosidade popular, preservação ambiental e reconstrução simbólica dos territórios amazônicos.obra da Itatiane Moraes

As obras de Itatiane Moraes emergem do nó do taperebazeiro, uma formação natural encontrada às margens das praias de Cametá, no Pará. Com o avanço do desmatamento, o material tornou-se raro, o que reforça sua função simbólica dentro da exposição. Das fibras irregulares, a artista esculpe corpos femininos que emergem de ferramentas como goivas, facas e formões, representando resistência e luta em cenários de opressão.

Para Itatiane Moraes, o trabalho é um ato de preservação e memória. “Minhas obras de arte são sempre preservando a natureza, que para mim é o mais importante. Por causa do desmatamento já não encontro essa madeira. Eu fico emocionada por tudo o que eu passei para chegar hoje e ter meu nome reconhecido e ser aplaudida por outras mulheres. É uma felicidade imensa poder expor na Galeria Theodoro Braga esse trabalho que eu já desenvolvo desde 2017”. Conta.

A artista define os veios femininos como linhas internas da madeira que ecoam histórias ancestrais e revelam, simbolicamente, a força da mulher amazônica. 

Em diálogo com esse universo simbólico, Maurileno Sanches apresenta esculturas sacras produzidas com madeiras de acapu, tradicionalmente utilizadas como esteios das palafitas da Comunidade Vila da Barca, em Belém. As peças, com mais de 20 anos de história, foram recuperadas após o processo de urbanização da área.

Nas mãos do artista, os antigos esteios marcados pela água, pelo tempo e pela vida cotidiana ganham nova forma em santos estilizados, que reinterpretam a religiosidade amazônica e fazem emergir uma devoção entranhada nas fibras da madeira. 

Maurileno relata que sua trajetória é construída sobre tradição familiar e anos de trabalho dedicado à cultura popular. “Esse é um projeto de pesquisa que a gente já trabalha há pelo menos 10 anos. A gente já carrega essa tradição porque meu pai era santeiro, meu tio era santeiro. Então desde pequeno eu via no ateliê de arte como eles faziam os santos. Foi no Núcleo de Oficinas Curro Velho onde eu me aprimorei como escultor, como mestre da cultura popular com produção de imagem de santo. Já são mais de 23 anos ministrando oficinas para crianças e adolescentes, repassando esses ensinamentos”. Disse.

Ele explica como surgiu a ideia de reutilizar os esteios da comunidade. “Em 2016 começou o projeto de urbanização da Vila da Barca, onde tiraram algumas casas de palafitas e ficaram alguns esteios enterrados na lama. Foi quando tive a ideia de reaproveitar essa madeira e comecei a fazer essas esculturas em imagem de santo. Para mim é muito significante, não é só o resgate da madeira, é o resgate da memória, é o resgate da tradição”. Complementa o artista. 

A exposição propõe ao público uma imersão sensorial que une natureza, corpo e espiritualidade, convidando o visitante a perceber a Amazônia não apenas como território, mas como sujeito de memória. As obras revelam fragmentos de um imaginário amazônico marcado pelo impacto ambiental, pela fé popular e pela força das mulheres que atravessam esses processos.

SERVIÇO:

Exposição: "Veios femininos, Devotos no veio"

Abertura: 12 de dezembro, às 19h

Visitação: 13 de dezembro de 2025 a 02 de fevereiro de 2026

Horário: 09h às 17h

Local: Galeria Theodoro Braga (Fundação Cultural do Pará - FCP)

Endereço: Av. Gentil Bittencourt, 650 - Nazaré, Belém – PA

Entrada franca